O Tempo não Para (Globo) - Espelho da Vida (Globo) - Jesus (RecordTv) - O Sétimo Guardião (Globo) - Verão 90 (Globo) - Órfãos da Terra (Globo) - Jezabel (RecordTv) - A Dona do Pedaço (Globo) - Topíssima (RecordTv) - Malhação – Vidas
Brasileiras (Globo)
O ano de 2019 termina provando mais uma
vez que a audiência não é e nunca será sinônimo de qualidade para nossa teledramaturgia. O ano
foi marcado por tramas que fizeram sucesso junto ao público, com uma audiência
crescente, mas na contramão, história que não acrescentaram em nada, tiveram
apenas o único intuito de entreter, como
o caso de Verão 90, ou pior ainda,
o simples intuito de conseguir audiência sem se importar com texto de qualidade
ou coerência, como foi A Dona do Pedaço.
Outras
tramas sem nenhuma pretensão
acabaram proporcionando ao público grandes momentos, e mesmo minguando na
audiência, se mantiveram em suas sinopses, mostrando que o telespectador tem
que aprender esperar para ver a trama fluir. Espelho da Vida, que nos deixou no
início de 2019, foi a grande prova disso. A trama só conseguiu se firmar na
audiência e a empatia do público em sua reta final, o que aconteceu inversamente com Órfãos da Terra, tão aclamada inicialmente, mas que perdeu o fôlego da sua metade em
diante.
Um dos fatos bons que 2019 nos trouxe
foi a RecordTv ter começado a
entender que as tramas bíblicas não podem ser
eternamente única atração da emissora. Depois do baixo desemprenho de Jesus no
início do ano, a emissora resolveu investir em uma novela contemporânea e, viu Topíssima se
transformar em um grande sucesso de público e crítica.
Foi um ano regular, marcado por sucessos
e insucessos, explicáveis ou nunca entendíveis.
Congelada em sua reta final, O Tempo não Para, do autor Mário Teixeira, teve um
início promissor, com bons entrechos e uma inovação – os congelados com mais de
100 anos que começavam descobrir o novo século. Com trama
inovadora, um texto pertinente, simples e sem didatismo, apresentou uma história que prendeu o público apaixonado
pelos entrechos dos personagens.
Porém
infelizmente, o autor usou todas suas fichas na primeira metade da
trama e deixou a história sem sustentação, o que prejudicou
muito seu andamento.
Como já
disse, o texto do Mário Teixeira, principalmente revelando os contrastes entre os séculos
rederam momentos pertinentes à trama. Destaque para o racismo, quando Dom
Sabino (Edson Celulari) , depois de entender está em um novo século, se choca
ao perceber que Eliseo, do Milton
Gonçalves, ainda arrastava uma carroça de material reciclável
pela cidade.
Atores consagrados que não precisariam
mostrar mais nada fizeram da trama seu palco, o caso do Edson Celulari (Dom Sabino), Christiane Torloni (Carmem), Milton Gonçalves (Eliseo) e Rosi Campos (Augustina).
Nicolas Prattes e Juliana Paiva fizeram
do Samuca e Marocas personagens inesquecíveis. Seguros e dando tudo de si para
o casal decolar, os atores acertaram no tom e na química e mesmo com os
entrechos que os separavam terem sido resolvido desde a metade da trama,
continuamos torcendo pelo #Samurocas mesmo com eles já juntos e
casados. E as emocionantes cenas no último capítulo com a Marocas envelhecendo
foi a coroação da dupla.
Outro casal que chamou atenção pela
química, humor e o talento de seus intérpretes foi Elmo e Miss
Celine, vividos pelo Felipe Simas e Maria Eduarda
Carvalho.
O Tempo não Para foi
promissora, funcionou até um certo momento, mas parou
da metade em diante. Não prejudicou o bom andamento dos últimos anos
das tramas das sete, mas também não acrescentou em nada.
As primeiras semanas de Espelho da Vida,
trama da Elizabeth Jhin,
mostraram uma história lenta e sem muitos acontecimentos. O público
começou a bocejar e a audiência cair muito. Porém a autora sabia bem o que estava fazendo, talvez a aceleração
no roteiro da obra tivesse atrapalhado seu conjunto. Enfim, Espelho da Vida ganhou
força da sua metade em diante quando a história dos anos 30 figurou com mais
força e o público começou a ser brindado com duas novelas ao mesmo
tempo ricas de um bom texto, roteiro e atuações impecáveis.
Assim como em Além do Tempo (2015), Espelho da Vida foi contada em dois tempos, e mesmo falando de
espiritismo e vidas passadas, a autora não foi didática e poupou o público de
doutrinação exagerada, o que descaracterizaria o bom folhetim, e apresentou uma
trama que precisou dessa lentidão inicial para apresentar um final eletrizante,
com direito a torcidas nas redes sociais e bolsas de apostas.
Sem
dúvidas o grande trunfo de Espelho da Vida foram as viagens entre as dimensões que a autora
soube dosar de forma perfeita, deixando o público
curioso para saber quem seria no passado o
personagem da vida atual de Cris (Vitória Strada), e passando a
torcer por esses reencontros e pelo bom desfecho da história.
Foi nessa duplicidade de personagens que
o elenco de Espelho
da Vida fez da trama um palco e nós
fomos brindados com grandes atuações em cenas memoráveis de atores
veteranos e iniciantes que só enriqueceram a produção.
Vitória Strada (Cris
/ Julia ) e Alinne Moraes, excelentes como protagonista e
antagonista, respectivamente; Rafael Cardoso (Danilo /
Daniel ), que logo que apareceu em cena ganhou o posto isolado de mocinho da
trama jogando para escanteio o Alain , do João Vicente de Castro,
até então muito engessado. Porém vale citar que Alain cresceu muito
em cena e o João Vicente conseguiu fazê-lo com maior credibilidade
da metade da trama em diante.
O Elenco veterano foi um show
à parte – Irene Ravache, Ana Lúcia Torre, Patrycia Travassos, Suzana
Faini, Julia Lemmertz, Felipe Camargo, Ângelo Antônio, Emiliano Queiroz entre
outros, fizeram valer a pena cada cena nas duas vidas de
seus personagens.
Até o núcleo de humor de Espelho da Vida, o que em outras tramas quase
sempre destoa da trama por completo, Elizbeth Jhin soube
apresentar de forma linear com a história central e nele brilharam nomes como
Vera Fischer,
Luciana Vendramini e Kéfera dando um fôlego necessário quando a
novela precisava dar uma desopilada do espiritismo.
Espelho da Vida em termos de
audiência ficou muito longe das suas antecessoras Orgulho e Paixão (2018) e Tempo de Amar (2017), mas também é de
longe uma trama bem mais interessante e complexa, que pediu para o
telespectador pensar para entender a história que se
entrelaçou entre os
dois tempos. Nessa contramão, o telespectador mais preguiçoso
desistiu , porém aquele mais
paciente conseguiu se apegar aos entrechos e torcer por eles, o que
mostrou que Espelho da Vida foi sem
dúvidas um novelão em todos os aspectos – do texto ao roteiro – da direção ao
elenco.
Mostrando um Jesus mais humano que
santo, a RecordTv continuou apostando em
tramas bíblicas com um dos mais famosos livros da bíblia. Mesmo sendo a passagem bíblica mais
conhecida de todas – calvário , morte e ressureição de Jesus Cristo – a autora Paula Richard,
apresentou a história de um Jesus mais humanizado, mostrando os entrechos
de personagens que passaram e foram tocados por ele, criando ótimos
ganchos para a parte folhetinesca da trama.
Uma
pena que tal qual acontecera com Apocalipse, a trama antecessora, Jesus foi
deixada de lado pela audiência logo na sua primeira fase quando
Maria, a mãe de Jesus que foi concebida sem pecados, na trama vivida
pelas atrizes Juliana Xavier e Claudia Mauro em fases
diferentes, foi mostrada como uma mulher que amava, que teve uma vida ao lado
do marido e inclusive outros filhos. A Igreja boicotou a trama com
direito à discursos inflamados de padres para as suas ovelhas.
Mas
a autora não se amedrontou, e como já havia anunciado nas entrevistas de
estreia da trama, seguiu a linha de humanização da história que foi
além da doutrinação ou da entrega de Jesus para salvar o mundo
simplesmente.
Curiosamente, Jesus foi
sucesso absoluto no Estados Unidos.
Claro que estou falando da audiência latina do país. A população hispânica
sintoniza a saga de Jesus no Prime Time (20h)
pelo Canal Unision e desde a estreia liderou no horário nobre batendo canais
como Telemundo, principal concorrente e UniMás, da Rede
Univision.
Dudu
Azevedo como o protagonista, ainda ficou devendo muito, mas é justo
lhe dar os créditos pelo personagem. O Ator se saiu muito bem nos momentos em
que a trama mais lhe exigiu, como a crucificação de Jesus, que
a RecordTv estendeu até onde pode. Foi uma das sequencias mais
aguardadas da novela e sem dúvidas a que mais emocionou o público,
principalmente por que a emissora roteirizou para que
ela fosse apresentada exatamente durante a Semana Santa, quando os
católicos relembram esse calvário.
Jesus foi uma superprodução pouquíssima valorizada, uma pena, mas
acho que entra naquela conta da defasagem das histórias bíblicas que a RecordTv insiste
em emendar uma na outra, além das reprises intercalando. Cansa e confunde o
telespectador, que perde a vontade de se apegar.
O Sétimo Guardião (Globo – 18 de Novembro de 2018 a 18 de
Maio de 2019)
A Sensação que ficou quando O Sétimo Guardião chegou ao fim foi a de um grande alívio. O que era para ser o grande
retorno do Aguinaldo Silva ao Realismo fantástico e volta do
gênero ao horário nobre , acabou se transformando em uma das tramas mais
equivocadas do horário, chegando a ofuscar neste quesito Babilônia (2015) e A Lei do Amor (2016).
Muito
antes de entrar no ar, O
Sétimo Guardião já
era uma novela a acompanhar por causa da
confusão pela paternidade da trama, que Aguinaldo
Silva e a Globo tiveram que enfrentar com
alunos de um curso de autores promovido pelo autor. A confusão atrasou a
viabilidade da trama que por pouco não foi pro ar. Hoje talvez
ninguém nem fizesse tanta confusão assim por essa paternidade!
Depois
que estreou, a falta de química entre os protagonistas Luz e
Gabriel, os personagens da Marina Ruy Barbosa e Bruno Gagliasso, a história incoerente , os entrechos esquecidos pelo
autor no meio do caminho mostraram que os bastidores da trama acabaram sendo
mais “folhetinescos” que a história ficcional.
Teve briga entre as estrelas
do elenco - Lília Cabral e Marina Ruy Barbosa; a separação do José
Loreto (O Junior da trama) da esposa, supostamente tendo Marina com
pivô; as doenças do Bruno Gagliasso; a morte de um
figurante e agora na reta final, a acusação de assédio
contra o ator Caio Blat. Uma trama bem mais interessante e
cheia de entrechos que a apresentada na tv.
Marina
Ruy Barbosa em sua primeira protagonista oficial viu a Luz se apagar
logo na fase inicial da trama , e com a falta de química gritante
que rolou entre ela e o Gagliasso foi um pulo para a trama desandar.
Não tenho receio de dizer que os personagens anteriores dos atores, A Amália
de Deus Salve o Rei (2018) e o Mário de Sol Nascente (2016), tidos como fracos, foram 100% melhores e
mais interessantes que a Luz e o Gabriel.
Deu
vergonha ver a Lília Cabral fazendo uma vilã tão caricata e
sem brilho. E o Tony Ramos então! O Ator que estreou no
texto do Aguinaldo Silva, ganhou um personagem tão
engessado que nem ele conseguiu dar vida.
O
pior é que O Sétimo Guardião tinha bons entrechos e ótimos
personagens com histórias que encheram os capítulos
iniciais e, que se bem roteirizados e melhores
aproveitados certamente teriam salvo a trama desse fiasco – o caso da abordagem
da violência doméstica com o Nicolau (Marcelo Serrado) e Afrodite (Carolina Dieckmann);
a lolita Lourdes Maria (Bruna Linzmeyer); a Stefânia da Carol Duarte;
o Delegado de calcinhas, vivido pelo Milhen Cortaz; Marilda (Letícia Spiller) e água milagrosa; o alcoolismo da
Stela (Vanessa Giácomo) entre outros.
Verão 90, a trama das
autoras Izabel de Oliveira e Paula Amaral, apesar de muito criticada pelo texto e
produção e vários outros motivos, cumpriu seu objetivo
que no decorrer dos capítulos ficou nítido que era só pura e simplesmente
entreter através da nostalgia dos recentes anos 90, sem levantar bandeiras,
polêmicas ou passar nenhuma mensagem mais importante.
Taxada de infantilóide, Verão 90 ficou na linha tênue entre o humor e o pastelão,
mostrando que as autoras sabiam o que estavam fazendo desde o começo e
, embora tenham dado umas pinceladas de alteração, a novela se
manteve à sua ideia original. E a boa média de audiência foi mais uma prova de
que o público comprou a história.
Até
a cronologia, muitas vezes equivocada , virou um mero detalhe,
e aí bastou focar nas referências e citações de outras tramas e viajar, mostrando outro ponto
forte de Verão 90.
Nem
as estrelas, dosadas em um tom muito acima do
teatral, sofreram alteração, o caso da Manusita (Isabelle Drumond)
e Lidiane (CláudiaRaia) ou a vilã mor Mercedes (Totia Meirelles). O Público teve que
“engoli-las” conforme a concepção original e na verdade
viu o charme que elas representavam dentro da história, não à toa que
compraram e transformaram a Isabelle Drumond e
a Claudia Raia, tão criticadas inicialmente, nos maiores
destaques da trama.
Jesuíta Barbosa, que pela primeira vez
fugiu dos personagens complexo aos quais estávamos
acostumados vê-lo fazer, embora inicialmente engessado,
foi se moldando no decorrer da trama e terminou com um Jerônimo espetacular, mesclando
o patológico como o cômico.
Quanto
a Camila Queiroz, na pele da Vanessa, logo nas suas primeiras cenas
foi por baixo o receio que eu tinha de vê-la fazendo uma vilã, talvez
escorregasse no caricato - Ledo engano! Ela tirou a Vanessa de letra.
Além da Cláudia e Isabelle, atores veteranos como Dira Paes (Janaína) e Totia Meirelles (Mercedes) , nomes
em plena ascensão profissional como Camila Queiroz(Vanessa)
e Jesuíta Barbosa (Jerônimo) , a trama trouxe ótimas
revelações que foram destaque -
como o casal lambadinha vividos pelos atores Ícaro Silva (Ticiano)
e Dandara Mariana (Dandara), Galdino do Gabriel Godoy , o
Patrick do Kléber Toledo, foram os pilares
de Verão 90, fazendo com que o público se a pegasse a um
ou outro personagem mesmo sem gostar do conjunto da obra.
Verão 90 foi
se acertando no ar, nos dando a sensação de que até o elenco entrou
na brincadeira, afinal de contas é nítido que alguns nomes do elenco
compraram a ideia e deixaram o tom alto dos seus
personagens ser o diferencial dos seus trabalhos.
Órfãos da Terra, trama das autoras Thelma Guedes e Duca Rachid, de uma novela muito elogiada em sua primeira
fase se transformou em uma história que andou
em círculos e perdeu todo o fôlego no decorrer dos capítulos.
Na
verdade Órfãos da Terra foi um “novelão” digno do horários
das nove até o momento em que dois pilares da trama tiveram que ser
limados da história -Aziz (Herson Capri) e Soraya (Letícia Sabatella). O Vilão e uma de suas vítimas. Já estava na sinopse que a
história sofreria essa baixa, até mesmo para dar vasão ao ódio da Dalila (Alice
Weigmann) por Laila (Júlia Dalavia), a mola mestra dos
entrechos desta segunda fase, dando a personagem ao posto prometido
de grande vilã.
Porém sem
Aziz, Laila (Júlia Dalávia) e Jamil (Renato Góes) ficaram
livres para curtirem seu amor selado com um
filho. O casal curiosamente perdeu toda química que explodiu
na primeira fase e o interesse do público foi instantâneo. A
esperança foi aguardar a chegada de Dalila (Alice Weigmann) ao Brasil para
vingar a morte do pai. Mas ao chegar, num perfil quase patológico
com maldades e planos falíveis, com várias idas e vindas à
prisão e o ódio desmedido e quase sem fundamentos contra
Laila, também deixou a personagem que prometia tanto , dentro
de uma história vazia, que nem mesmo todo o
brilho e talento da Alice Weigmann foi capaz de salvar.
A impressão que me deixou foi que
as autoras cansaram da trama principal e a deixaram lá
cozinhando em banho-maria e resolveram focar nas tramas paralelas e
no pano de fundo de Órfãos
da Terra - o drama dos refugiados.
Aliás
nesse ponto elas foram peritas, sensíveis na abordagem e com um cuidado
primoroso com o belo texto. O Engajamento no combate à discriminação foi
mantido do começo ao fim, sem comprometer em nenhum momento o roteiro,
mostrando que é possível sim apresentar uma trama com assunto
pertinente sem jogar o didatismo radical na cara do telespectador.
E sem o
casal principal as autoras apostaram em outros casais que valeram
muito a pena torcer, casais construídos na reta final mais que o público logo
se identificou : (Carol Castro) e Haussen (Bruno Cabrerizo); O
Romance dimensional entre Cibele (Guilhermina Libânio) e Davi (Vitor
Thiré), que no final encontrou o amor nos braços do Pericles (Lucas
Capri); a relação entre uma mulher mais velha e um jovem rapaz
– entrecho dos personagens Letícia (Paula Burlamaqui) e Benjamim
(Filipe Bragança), e os hilários Zuleika e
Almeidinha – Emanuelle Araújo e Danton Mello.
As autoras guardaram uma surpresa para a reta
final. As então vilãs Camila e Valéria, depois de aprontarem muito em busca de
ascensão social e grana, foram se descobrindo e se
revelaram apaixonadas. É mais uma abordagem de relação homossexual na
teledramaturgia nacional, algo que há tempos já é tratado como
natural nas produções de outros países, e especificamente em Órfãos daTerra é
um ótimo entrecho criado para as duas personagens que sempre brilharam dentro
da história. O Beijo do #Vamila, como o público shippou o
casal, foi guardado para o casamento no penúltimo
capítulo para alegria geral da nação.
Foi
enriquecedor ver a construção dos entrechos dos personagens Mamede (Flávio
Migliaccio) e Bóris (Osmar Prado). Os dois veteranos brilharam quando enveredaram no drama da
doença que Mamede começa a demonstrar, para desespero dos netos, e
onde os até então inimigos, acabam se aproximando, a
medida que Bóris tenta amenizar a situação do amigo.
Foi enriquecedor ver dois grandes atores da história da tv vivendo
ótimos momentos em cena.
Assim de um novelão das nove com uma abordagem crível de um
tema pertinente, os refugiados, Órfãos da Terra se mostrou mais uma
novela água com açúcar com pontuais entrechos interessantes. Embora
a audiência da trama não tenha sofrido muito com essa discrepância entre as
fases, a novela fez o caminho inverso de sua antecessora Espelho da Vida, da Elizabeth Jhin,
que começou fraca e só pegou força da sua metade em diante.
Nem a
protagonista vilã, um diferencial dentro das tramas bíblicas da RecordTv,
foi capaz de salvar a trama de Jezabel, novela da Cristianne Fridmann, que praticamente passou em branco nos
5 meses em que ficou no ar.
O gênero bíblico
está saturado, e nem a superprodução de encher os olhos e
as importantes passagens descritas no Antigo Testamento, como a
vinha de Nabote (Flávio Galvão) e a cura de Naamã (Pedro Henrique Moutinho),
foi capaz de chamar o público para a novela.
Mas Jezabel , tirando a visão cansada do público sobre os temas
bíblicos repetidos a exaustão pela emissora, teve suas qualidades, a
começar pelo texto, com uma Cristianne Fridmann ainda
fria em tramas bíblicas, o que contou a seu favor, deixando
a história mais
folhetinesca do que as anteriores.
Lidi Lisboa,
alçada ao posto de protagonista merecidamente , deu
um show como a Isméria de Escrava Mãe, precisava
de uma protagonista para mostrar o nível do seu talento. E em nenhum momento
ficou devendo nada em interpretação, dada as devidas proporções do
folhetim, segurou a protagonista fora dos padrões das novelas
bíblicas.
Se
não fosse a tendência da dramaturgia bíblica da RecordTv, que apenas se repete, sem mudar
sequer o elenco, Jezabel tinha muitos ingredientes para ser
um bom momento para a teledramaturgia da emissora.
A Dona do Pedaço, do Walcyr Carrasco,
foi o grande bum do ano, em todos os aspectos.
Um show de desserviços
emoldurado por um texto raso, final apoteótico da vilã Josiane (Ágatha
Moreira) e audiência nas alturas.
Sem
muitos entrechos ou surpresas para o capítulo final, o grande
destaque mesmo ficou por conta da revelação da farsa da Josiane, que matou
Régis (Reynaldo Gianechinni) e se mostrou possuída. O Walcyr prometeu
e entregou um final apoteótico mesmo, disso ninguém vai poder reclamar, a
Josiane entrou para o hall das grandes vilãs da teledramaturgia.
No mais, A Dona do Pedaço foi apenas uma máquina de captar audiência e merchandising,
sem dar a menor importância para um texto no mínimo
coerente e sempre utilizando de entrechos tão fáceis, que beiraram
as novelas infantis do SBT.
Os desserviços de A Dona do
Pedaço foram
muitos - As cenas circenses entre a
personagem trans Britney (Glamour Garcia) e seu pretendente
português; o caricaturismo de evangélicos; o casal gay quase
enrustido, com direito a beijo só para selar o final da trama (Agno/Malvino
Salvador e Leandro/Guilherme Leicam ), entre outros... mas nenhum foi tão grave
quanto a romantização do atirador Chiclete (Sérgio
Guizé) e a violência doméstica sofrida por Vivi Guedes (Paolla Oliveira) na reta final da trama. Muitos assuntos
abordados de forma irresponsável.
Walcyr Carrasco não
se preocupou nenhum pouco em alicerçar seus personagens por um bom texto, o
único e explícito interesse era ganhar audiência, e deu certo. A
Trama é um dos maiores sucessos do
horário nobre global mesmo recheada de personagens bobos, com textos
repetitivos e caricatos.
Muitos desses
personagens brilharam muito mais graças a empatia e talento de seus
intérpretes do que pela história que viveram propriamente. Imaginem
a Maria da Paz sem uma Juliana Paes por trás, a Vivi
Guedes, que foi uma máquina de fazer dinheiro através de propagandas dentro da
novela sem o carisma e poder comercial da Paolla Oliveira;
a Fabiana sem a perícia da Nathália Dill; o Chiclete sem o Sérgio Guizé, ou
a Kim sem a Mônica Iozzi ... Enfim os intérpretes
salvaram seus personagens.
Esse tipo de trama, sem a preocupação de um
bom texto ou história com o único intuito entreter e captar audiência, já virou
a marca registrada do Walcyr Carrasco no horário
nobre da Globo, foi assim com Amor à Vida (2013) e O Outro Lado do Paraíso (2017)
– Novelas também marcadas por uma audiência
espetacular, mas sem um conteúdo importante, tendo como pilares
grandes viradas, retornos de personagens e finais apoteóticos, mas
sem dúvidas entre as três A Dona do Pedaço se superou muito. Confesso que tenho receio da
próxima trama do autor.
Melhor projeto
da RecordTv este ano, Topíssima, da Christiane Fridmann, sem pretensão
alguma prendeu o público cativando audiência num texto cirúrgico que mesmo
falando de assunto polêmicos como aborto, tráfico e uso de drogas, conseguiu
apresentar uma história pertinente porém leve,
pincelada com doses de romance e humor.
Topíssima acertou em todas as abordagens pretendidas – Texto
pertinente, direção precisa, um elenco jovem emoldurado por veteranos em bons
papéis e o charme e a química dos
protagonistas fizeram da trama um folhetim gostoso de se ver
, ficando impossível imaginar perder um capítulo
sequer.
O Elenco foi um fator
determinante para esse sucesso. Veteranos como Cristiana Oliveira (Lara
Alencar ), Maurício Mattar (Carlos), Floriano Peixoto (Paulo
Roberto), Isabel Fillardis (Vera), Paulo César Grande (Zeca)
e Kadu Moliterno (Dagoberto), em ótimos papéis fizeram a
diferença.
DeniseDel Vecchio, como já era esperado, espetacular na
pele da sofrida Madalena, foi um show à parte. As
cenas pós morte da Jandira (Brenda Sabryna)
protagonizadas pela atriz, foram sem dúvidas as melhores,
mais fortes e emocionantes da trama.
Uma grata surpresa
que Topíssima nos trouxe foi uma nova
faceta do talento de Silvia Pfeiffer. Consagrada em
papéis de vilãs ou mulheres ricas e sofisticadas, a RecordTv foi
ao poucos lhe dando papéis mais complexos e diferentes do seu perfil já
perpetuado na Globo. A simplicidade da favelada Mariinha
Ramos, foi a prova dos nove para a atriz, que se jogou de corpo e alma na
personagem.
O Elenco jovem, além de enfeitar a
trama, mostrou atores com pouca experiência,
porém que sabiam o que estavam fazendo e brilharam muito.
Destaque para Brenda Sabryna, a Jandira, que protagonizou um dos
assuntos mais polêmicos da história - fez um aborto a
pedido do namorado e morre em decorrências de complicações do mesmo.
O Assunto tomou os quatro cantos do Brasil e deu um novo status a carreira da
atriz.
Camila
Rodrigues e Felipe Cunha, a Topíssima Sophia Loren e Antônio, superaram todas as
expectativas. A química entre eles foi crucial para a empatia do público pelo
casal protagonista e o charme que a trama precisava como suspiro
para os temas densos que iria tratar.
Topíssima foi
muito além do escapismo dos temas bíblicos da emissora. É muito importante falar sobre o passado
através de tramas de épocas ou bíblicas, porém é imprescindível
falar da atualidade, se preocupar com o que acontece tempestivamente ao nosso
redor mesmo no entretenimento, com a responsabilidade e importância que o
folhetim exerce dentro das casas das famílias brasileiras. Topíssima foi uma prova disso, o
público se identificou com um ou outro personagem, transformando o conjunto da
obra em sucesso, e olha que a trama a partir do seu
segundo mês de exibição concorria direto com Bom Sucesso, trama da Globo considerada
a melhor no ar até então.
Topíssima terminou
aclamada e com uma “segunda
temporada”, garantida, o que certamente será muito bem recebida.
Malhação – VidasBrasileiras (Globo – 07 de Março de 2018 a 15 de Abril de 2019)
Malhação Vidas Brasileiras
, a temporada da novela teen que teve a grande missão de substituir “Vivaa Diferença” uma das
temporadas de maior sucesso dos últimos anos e que até hoje é
muito lembrando pelos telespectadores e imprensa, terminou em abril deste ano
e Coincidentemente na última semana de Vidas Brasileiras, Viva a Diferença foi a agraciada com o Emmy Kids Internacional,
apagando ainda mais os holofotes sobre a temporada.
Sem um
protagonista absoluto, apenas com a Camila Morgado sendo
o pilar das histórias que ocorrem de
duas em duas semanas com um
novo aluno em evidência, a temporada escrita por Paula
Moretzsonh, baseada na série canadense30 Vies, tentou
inovar na busca do público órfão de Viva a Diferença,
acertando em alguns momentos, porém bem distante do seu sucesso.
Não faltaram os
temas recorrentes relacionados ao público jovem como drogas, agressão, perda da
virgindade, gravidez na adolescência, e até chegou ao topo de todos os
comentários das redes sociais ao apresentar o primeiro beijo gay masculino da
série exibido pouco antes das seis horas da tarde.
Foi sem dúvidas um
grande passo para a Malhação e uma total ousadia dentro da teledramaturgia
global, que cada vez se mostra mas a expressão
da verdade e um panorama da atual sociedade.
A Novela arriscou mudando a temática da narrativa e
viu através dos números da audiência que não deu certo, não à toa que voltou a mesma temática de Viva a Diferença com a nova temporada, o encontro de
jovens que não se conhecem e passam a ter suas vidas entrelaçadas a
partir de então.
Veja Também :
Novelas - Balanço 2018 |
Fonte:
Texto: Evaldiano de
Sousa
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